12/04/2017 11h52 - Atualizado em 12/04/2017 14h14

Na década de 1980 aprendi como ser amigo do tempo com um motorista da empresa em que trabalhava.  Em uma dessas idas para São Paulo a trabalho, enquanto eu realizava uma reunião, ele comprou muitos garfos e facas. No retorno da viagem, questionei o porquê da compra de tantos talheres. Ele demonstrando satisfação respondeu que estava montando uma lanchonete, cujo produto principal seria o pastel. De imediato perguntei: “quando você irá inaugurá-la?” Ele respondeu: “no máximo em oito anos”. Surpreso com aquela resposta parabenizei-o pelo planejamento, dizendo “é raro ver entre nós, na maioria latino, procedimento similar a esse”. Explicou que não tinha recursos e teria que ir mesmo bem devagar.  Já no inicio dos anos 2000, fiquei sabendo que ele já havia montado duas lanchonetes e continuava atuando como motorista. Refleti muito sobre essa experiência e principalmente sobre o que levava aquele indivíduo estar tão determinado. Considerei que esse indivíduo na convivência constante com proprietários, diretores  e acionistas daquela empresa havia absorvido idéias empreendedoras. De alguma forma ele criou uma grande causa mental, que não questionei. Por que falo isso com tanta segurança? Porque sei que todo progresso tem por trás uma razão significativa, considerando que as objeções surgem de todos os lados para testar a consistência daquele propósito. Acredito que isso seja uma lei da Vida. Sei também que uma grande razão faz o ser humano transcender e utilizar plenamente os seus talentos, geralmente adormecidos. Mas as principais lições que tirei dessa experiência foram às ideias de que uma meta aparentemente impossível você realiza subdividindo-a em pequenas metas possíveis e da importância de se tornar amigo do tempo. Isso significa dizer que o impossível não existe. O que existe são submetas possíveis interdependentes, realizadas em tempos exequíveis.  Naquela época as mudanças não estavam tão aceleradas quanto nos dias atuais. Se você, hoje, desenhar um modelo de negócio para executar daqui a oito anos, dependendo do segmento, o risco desse empreendimento se tornar obsoleto é enorme. Portanto, é necessário ponderar o ciclo de vida do empreendimento. Mas a importância de dar um passo atrás do outro continua.  O segredo de alguns maratonistas brilhantes é não pensar na reta final, mas dar o máximo de si até o próximo poste de iluminação ou outra referência qualquer. O brasileiro, de maneira geral, tem muita pressa. Quer o futuro no presente. Na pressa o movimento é caótico, porque muito do que é feito é superficial. A arte dos pequenos passos, bem administrados, sem tantos riscos, com tempo para corrigir e melhorar é deixado para trás. Cá entre nós, o tempo, com seus alertas, opera contra os empecilhos e a favor da ação correta. Conclui-se que o tempo é amigo. Não tem sentido já estarmos no século 21 e não termos aprendido a conviver bem com o tempo.