09/06/2016 17h02 - Atualizado em 09/06/2016 17h37

Em janeiro de 2008, um empresário da área de fabricação de equipamentos de proteção individual me indagou sobre quando ocorreria uma nova crise. Considerando que o país apresentava bons indicadores econômicos, naquela época, refleti que a pergunta, aparentemente, não tinha nada a ver e aparentava ser resultado de algum pessimismo. Mantive-me em silêncio, e retornei com outro questionamento: “por que esta pergunta?” Ele, de forma categórica, comentou: “Não pense que é negatividade, é realidade. De tempo em tempo, surge uma nova crise. Tenho impressão que é algo cíclico. Com minha experiência de vida, aprendi a me preparar para elas. Por exemplo, agora, estou muito bem capitalizado aguardando a situação indesejável. Procuro agir preventivamente. Estar atuando também na agricultura, que tem as suas imprevisibilidades, aprendi a ser bem cauteloso nos negócios. E quando a crise ocorre, tiro o maior proveito dela.
Como esperado por esse experiente empresário, em setembro daquele ano estourou a crise internacional que desequilibrou os Estados Unidos, com bolha imobiliária e quebra do banco de crédito Lehman Brothers.  Em dezembro de 2008, ele fez questão de me contatar só para dizer que havia comprado terras na região de Bauru (SP) pela metade do preço. E reforçou: já estou me preparando para a nova crise que com certeza virá. Desligou o telefone afirmando: “Eu me enriqueço com as crises. Só tenho à agradecer”. Um caso como esse é raro entre empreendedores de pequenas e médias empresas. Não é ainda da nossa cultura latina os planejamentos de médio e longo prazo. Somos muito mais fazedores do que planejadores.
Em um planejamento decente tem-se de fazer pelo menos uma pergunta: quais são cinco coisas que podem dar erradas? No planejamento temos de pensar no pior, ser pessimista, visando traçar planos B e C (se for o caso). É sabido que nada resiste ao preparo. Já na execução, por sua vez, temos de ser otimistas. No conglomerado de crises que se instalou no Brasil, nos dias atuais, apesar das evidências que isso ocorreria desde março de 2013, temos de se adaptar rapidinho. Estava rolando valsa e a música mudou para heavy metal. Não tem sentido continuar dançando fora do ritmo. Cabe bem aqui o título do livro que conta como o publicitário Nizan Guanaes criou um grande negócio de propaganda: “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”. Também é sempre bom lembrar que o nível de saúde de uma organização é medido a partir do grau de adaptação da mesma às novas realidades, que mudam constantemente.