09/06/2016 17h17 - Atualizado em 09/06/2016 17h40

Manipulações sempre existiram. Desde notícias indesejáveis serem dadas pelo governo durante o carnaval, bem como ausência de investimento necessário na educação, levando a crer que não é de interesse político que o povo saiba digerir informações e consequentemente votar com bom senso. No nazismo, o povo alemão, intelectualizado, religioso e conhecedor dos 10 mandamentos, foi conduzido a apoiar o extermínio de judeus, gays, comunistas e negros. Sempre me intrigou como as pessoas aceitam essas influências de formas direta e indireta.
Um dos meios inteligentes de manipular é a propaganda subliminar, que são mensagens de persuasão feitas para serem percebidas apenas no subconsciente. A primeira experiência do gênero foi realizada em 1956, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, pelo publicitário Jim Vicary. Durante a projeção de um filme, ele inseriu a frase “Beba tal refrigerante” numa velocidade tão rápida – aparecendo com apenas 0,003 segundo de duração – que ela passava desapercebida. O olho humano só capta imagens que duram no mínimo 0,02 segundo, mas, de acordo com Vicary, as mensagens ficavam gravadas na mente das pessoas – tanto que, no intervalo do filme, as vendas do refrigerante aumentaram 60%. Ele repetiu a experiência com a mensagem “coma pipoca” e obteve o mesmo resultado. Também é possível fazer propaganda subliminar com sons. “Uma técnica comum é usar batidas de coração como ruído de fundo para propaganda política.
O som fica quase imperceptível, principalmente se misturado à trilha sonora ou à fala do candidato, mas passa uma sensação de calma e segurança. O expediente, possivelmente, já deve ter sido utilizado por alguns políticos brasileiros.
O caso mais famoso de propaganda subliminar aconteceu no Japão, em 1997, quando mais de 700 crianças tiveram ataque epiléptico por causa do desenho Pokemón. A animação trazia um estímulo luminoso – flashes coloridos imperceptíveis – que deveria causar uma sensação agradável, mas que provocou curto-circuito no cérebro das crianças. “Propaganda subliminar é crime em países como Estados Unidos e França, mas aqui no Brasil, pelo que se sabe, não existe uma legislação específica sobre o assunto.
Em 1986, estava nos Estados Unidos e fui assistir, acompanhado de uma professora americana, extremamente politizada, filha de um cientista, ao lançamento do filme “Top Gun”, estrelado pelo ator Tom Cruise. Na saída do cinema, ela fez um comentário inesperado sobre o filme, afirmando se tratar, possivelmente, de um patrocínio da Força Aérea daquele país para motivar o jovem americano entrar na vida militar, uma vez que o seu país vive em guerra.  Surpreso e com expressão de ingenuidade, questionei e debati com ela o que seria uma democracia verdadeira.
Nessa linha de raciocínio, pergunto: qual é a mais nova e inteligente manipulação?
Minhas suspeitas vão para os excessos de informações e de atividades  secundárias provindas das novas  mídias sociais (Facebook, twitter,…), que provavelmente contribuem para as pessoas se distraírem em demasia e encontrarem dificuldades em se concentrar. Como consequência está se tornando comum encontrar indivíduos em duas ou mais situações simultâneas. Nessas condições, não conseguem perceber plenamente a realidade ao seu redor. Não conseguem agir com excelência. Considerando que os mesmo circuitos cerebrais usados para concentração são os mesmos que geram ansiedade, fica fácil desenhar um cenário para um futuro breve: o número de pessoas ansiosas aumentará sensivelmente.  Não é preciso lembrar que a ansiedade, nos dias atuais, mata mais pessoas do que o cigarro.
Mas o malefício não para aí, pois sem concentração perdemos o controle do pensamento. Ao perder o controle do pensamento, perdemos o poder de utilizar a riqueza do pensar. E com isso, com certeza, alguém vai  controlar o distraído.
Uma pergunta vem na mente: a quem possa interessar isso?
Não sei responder essa pergunta.
Mas, de qualquer forma temos de aprender a utilizar a percepção, utilizando todos os sentidos, em todas as direções, em todas as situações e em todos os momentos. Aprender a desconfiar do excesso e da escassez, uma vez que a experiência manda sempre buscar o caminho do equilíbrio, o caminho do meio.
Para isso, é necessário reservar mais espaços de tempo, durante o dia, para reflexões.
A escolha é nossa: ser condutor ou ser conduzido. Pense nisso.