09/06/2016 17h24 - Atualizado em 09/06/2016 17h40

Um amigo comentou, recentemente, ter visto uma pick-up, em estrada movimentada, próximo a Ribeirão Preto, sendo conduzida por um jovem, com seus dois cotovelos apoiados sobre a direção do veículo, digitando em dois smartphones. Em velocidade lenta e vacilante, chamava muita atenção.
Ingenuidade, sem noção do perigo?  Excesso de atividades? Não dá para saber exatamente, mas de qualquer forma é uma das facetas de um indivíduo da famosa geração Y, nascidos entre os anos 1980 à 1999. Eles têm muitas características positivas: Rejeitam toda forma de autoritarismo; encaram o trabalho não apenas para ganhar, mas também para melhorar o mundo; cultuam muito a saúde e a beleza corporal; são entusiastas do desenvolvimento pessoal; não aceitam a intolerância; são sensíveis as questões do meio ambiente e proteção dos animais; contestam o preconceito; adoram ser diferentes e são fissurados por tecnologia.
Por outro lado, são impacientes, acham que podem tudo e têm facilidades em ficar em várias situações ao mesmo tempo.
Devido ao fato de seus pais terem priorizado o trabalho, sem querer generalizar, passaram boa parte da infância com outras pessoas sem autoridade para impor limites. São apelidados de “Ipod tudo”, lembrando o famoso aparelho de tocar mp3 da Apple.
Nesse caso da pick-up, os riscos e as probabilidades de um acidente eram grandes. Fiquei surpreso com um indicador de uma das principais seguradoras da cidade de Bauru, interior de São Paulo: somente em finais de semana, são registrados de 25 a 30 acidentes. No mês, de 260 a 300 ocorrências.
Independente de qualquer tipo de geração é sabido que o ser humano, em mais de uma situação simultânea, não pensa o suficiente. Se não pensa bem, com certeza não executa bem. Isso me faz lembrar o pato que não anda bem, não canta bem, não nada bem e não voa bem.
Uma pesquisa realizada recentemente na Universidade de Stanford, entre 100 estudantes daquela instituição, concluíram que multitarefeiros crônicos têm dificuldades de focar e não são capazes de ignorar informações irrelevantes.
A concentração é aconselhável. Uma atividade de cada vez, fazendo-a bem feita. O foco deve ser na qualidade. A quantidade sem qualidade é traduzida como algo “meia boca”.
De alguma forma, é o automatismo conquistando espaço em boa parte das ações desses jovens. É bom lembrar que automatismo faz parte de vocabulário de máquinas e equipamentos.
Uma hipótese plausível é que esses jovens, da geração Y, copiam seus pais com históricos de estarem sempre cheios de atividades. O exemplo, como é sabido, é marcante na educação de uma criança.
A pergunta que deve ser feita é: precisa-se de tudo isso para viver?
Ficar em várias situações ao mesmo tempo é um excesso.
Pelo que se sabe excesso gera desequilíbrio. Você já viu algum excesso fazer bem?
Sem sombra de dúvida, a reinvenção do ser humano passa pela gestão do tempo. Mesmo com tantas tecnologias que auxiliam na otimização dessa grandeza, demonstramos precisar cada vez mais de tempo. Aprender a lidar de forma mais inteligente com essa riqueza tão preciosa e gratuita talvez seja mais um grande desafio para os dias atuais.
Existem pessoas e gerações que fecham por completo a mente à realidade. Não querer considerá-la, pode ser visando poder controlá-la. Pura ilusão. Por sua vez a incapacidade de dizer “não” para atividades irrelevantes faz com que a pessoa venha perder o controle da sua própria vida. Segundo William James, pai da psicologia norte-americana, “a arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar”.